8.4.09

Sobre a Paixão e o Amor - Breve história



Sobre a Paixão e o Amor


"Conta a lenda que uma jovem mariposa - de corpo frágil e alma sensível - voava ao sabor do vento certa tarde, quando viu uma estrela muito brilhante, e se apaixonou.

Excitadíssima, voltou imediatamente para casa, louca para contar à mãe que havia descoberto o que era o amor.
- Que tolice! - foi a resposta fria que escutou. - As estrelas não foram feitas para que as mariposas possam voar em torno delas. Procure um poste ou um abajour, e se apaixone por algo assim; para isso nós fomos criadas.

Decepcionada, a mariposa resolveu simplesmente ignorar o comentário da mãe, e permitiu-se ficar de novo alegre com a sua descoberta.

- Que maravilha poder sonhar!- pensava.

Na noite seguinte, a estrela continuava no mesmo lugar, e ela decidiu que iria subir até o céu, voar em torno daquela luz radiante, e demonstrar seu amor.
Foi muito difícil ir além da altura com a qual estava acostumada, mas conseguiu subir alguns metros acima do seu vôo normal.
Entendeu que, se cada dia progredisse um pouquinho, iria acabar por chegar à estrela, então armou-se de paciência e começou a tentar vencer a distância que a separava de seu amor.
Esperava com ansiedade que a noite descesse, e quando via os primeiros raios da estrela, batia ansiosamente as suas asas em direção ao firmamento.

A sua mãe ficava cada vez mais furiosa:

- Estou muito decepcionada com a minha filha - dizia.
- Todas as suas irmãs, primas e sobrinhas já têm lindas queimaduras nas asas, provocadas por lâmpadas! Só o calor de uma lâmpada é capaz de aquecer o coração de uma mariposa; você devia deixar de lado estes sonhos inúteis, e arranjar um amor que possa atingir.

A jovem mariposa, irritada porque ninguém respeitava o que sentia, resolveu sair de casa.
Mas, no fundo - como, aliás, sempre acontece - ficou marcada pelas palavras da mãe, e achou que ela tinha razão.
Por algum tempo, tentou esquecer a estrela e apaixonar-se pela luz dos abajoures de casas suntuosas, pelas luminárias que mostravam as cores de quadros magníficos, pelo fogo das velas que queimavam nas mais belas catedrais do mundo. Mas o seu coração não conseguia esquecer a estrela, e, depois de ver que a vida sem o seu verdadeiro amor não tinha sentido, resolveu retomar a sua caminhada em direção ao céu.

Noite após noite, tentava voar o mais alto possível, mas quando a manhã chegava, estava com o corpo gelado e a alma mergulhada na tristeza.
Entretanto, à medida que ia ficando mais velha, passou a prestar atenção em tudo que via à sua volta. Lá do alto, podia ver as cidades cheias de luzes, onde provavelmente as suas primas, irmãs e sobrinhas já tinham encontrado um amor. Via as montanhas geladas, os oceanos com ondas gigantescas, as nuvens que mudavam de forma a cada minuto.
A mariposa começou a amar cada vez mais sua estrela, porque era ela quem a empurrava para ver um mundo tão rico e tão lindo. Muito tempo se passou, e um belo dia ela resolveu voltar à sua casa. Foi então que soube pelos vizinhos que sua mãe, suas irmãs, primas e sobrinhas, e todas as mariposas que havia conhecido já tinham morrido queimadas nas lâmpadas e nas chamas das velas, destruídas pelo amor que julgavam fácil.

A mariposa, embora jamais tenha conseguido chegar à sua estrela, viveu muitos anos ainda, descobrindo todas as noites algo diferente e interessante. E compreendendo que, às vezes, os amores impossíveis trazem muito mais alegrias e benefícios que aqueles que estão ao alcance de nossas mãos. "

Paulo Coelho

1 comentário:

  1. Simplesmente lindo!
    O mais fácil, por ser fácil, não significa que seja o melhor para nós... Aprendemos e crescemos muito com os desafios que nós são colocados na vida. A felicidade é o caminho...
    Muita luz

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